Internet
28 Sep 2019
O Facebook começou a realizar um teste envolvendo uma de suas principais ferramentas: a marcação da reação chamada like
(gostar, no termo em inglês) em publicações. A experiência começou na
Austrália e poderá ser estendida a outras nações. Não há, ainda,
previsão de quando poderá ser implantada no Brasil.
O like é um dos principais recursos de engajamento com uma
mensagem difundida na rede social, permitindo que os usuários demonstrem
uma avaliação positiva sobre determinado conteúdo. Em 2016, a empresa
passou a disponibilizar outras reações por meio de símbolos gráficos,
como expressões de amor, tristeza, raiva e surpresa.
À Agência Brasil, a assessoria da companhia afirmou
que a alteração não será ampla na plataforma e será avaliada de forma a
verificar os impactos que trará nas experiências e engajamentos dos
usuários.
“Estamos fazendo um teste limitado em que as contagens de curtidas e
reações, além do número de visualizações de vídeos se tornam privados no
Facebook e apenas visíveis para o autor do post. A partir disso, vamos reunir feedbacks para entender se essa mudança irá melhorar a experiência das pessoas”, declarou a empresa por meio de nota.
Potenciais prejuízos
Estudos indicaram possíveis impactos do uso de redes sociais no
bem-estar de pessoas, especialmente jovens. Pesquisa da Universidade de
Michigan, nos Estados Unidos, estabeleceu uma relação entre o uso do Facebook e comportamentos de vício. A lógica de oferta de “recompensas” por esses sites
e aplicativos dificulta a tomada de decisões e estimula atitudes de
retorno contínuo ao uso do sistema, assim como no caso de outras
desordens ou de consumo de substâncias tóxicas.
Já outra investigação acadêmica realizada por pesquisadores das
universidades de Stanford e de Nova York identificou efeitos positivos
em pessoas que deixaram de navegar na rede social, como aumento de bem-estar
e redução da polarização política. De outro lado, dirigentes da
empresa, entre eles o CEO (diretor executivo) Mark Zuckerberg, em
diversas ocasiões sugeriram o intento de buscar experiências mais
positivas na rede social.
Outras intenções
O coordenador do grupo de pesquisa Estudos Críticos em Informação,
Tecnologia e Organização Social do Instituto Brasileiro de Informação em
Ciência e Tecnologia (Ibict), Arthur Bezerra, ponderou que, embora o
Facebook manifeste preocupação com a experiência e com a saúde dos seus
usuários em medidas como esta, a mudança pode ter outras motivações mais
voltadas ao modelo de negócios da companhia.
“Devemos lembrar que empresas como o Facebook obtêm seu lucro pela
publicidade direcionada alimentada pelos dados do usuário ao agir na
plataforma, precisando prender o usuário o máximo de tempo no seu
interior. É possível aventar que, mais do que uma decisão voltada para
os comportamentos, ocorre uma tentativa de não perder o seu principal
ativo, o usuário, interagindo. Isso porque postagens com poucas curtidas
e baixa interação podem ser desestimulantes para indivíduo continuar na
plataforma”, afirmou.
Instagram
Em julho, a empresa implementou teste semelhante no Brasil em outra rede social de sua propriedade, o Instagram. A mudança já havia sido testada em outros países e chegou aos usuários brasileiros.
O teste fez parte de diversas iniciativas anunciadas pela plataforma
para combater práticas nocivas na internet, como discurso de ódio, ou bullying na
web. Tais ações são uma resposta a críticas recebidas pela plataforma
de que sua arquitetura e lógica de funcionamento favoreceriam um
ambiente prejudicial ao bem-estar de seus integrantes.
Um estudo da Sociedade Real para a Saúde Pública, realizado em 2017, apontou o Instagram como a pior rede social para o bem-estar e a saúde mental de adolescentes. - Agência Brasil