Água
09 Apr 2018
16:53
Hoje, caso questionemos algum
adolescente – alguns nem tão adolescentes assim – sobre algo totalmente
indispensável, provavelmente, a energia será a primeira resposta. Sem dúvida, é
algo que altera a vida de todos.
Mas, antes da energia, vem a ÁGUA; e,
aliás, cerca de 70% da energia elétrica do Brasil também depende dela. Não foi
coincidência que as primeiras civilizações se desenvolveram as margens de rios
e córregos. Além da ingestão, a água é imprescindível para a produção de
alimentos.
Por muito tempo a questão da água,
especialmente no Brasil, foi negligenciada. Pela abundância e facilidade de
acessá-la, poucos cuidados eram realizados. Extraindo regiões que são
históricas de escassez, muito por falta de políticas públicas sérias, afinal
era a muleta para desvios de dinheiro. Casos de corrupção conhecidos,
utilizando a deficiência natural de água, datam da década de 70; o “escândalo
da mandioca”, em Pernambuco, foi um clássico. Estima-se que R$ 1,5 bilhão foram
desviados do Proagro.
Neste caso, os bancos realizaram
empréstimos supostamente para o plantio de mandioca, feijão, cebola e algumas
outras culturas, para pessoas munidas de documentos falsos. Sequencialmente, os
pagamentos não eram realizados, porque se alegava que a seca destruíra as
plantações – aquelas que nunca haviam sido realizadas. Mas, houve um ano de
chuvas adequadas, e, não existiam plantações? As fraudes foram descobertas.
Eles não tinham combinado com o clima. A água estava lá.
Outras regiões, onde o acesso de água é
fácil e há chuvas distribuídas de forma mais harmônica, sequer existiam
políticas e programas sérios que focassem a preservação deste bem precioso,
assim como o uso racional. Nas ultimas décadas, este cenário tem se modificado.
Além de o acesso a informação ter sido ampliado, o que facilitou a
sensibilização da população quanto a água, assim como, racionamentos em
diversas cidades, mais brasileiros estão engajados na preservação.
Um fato, a agropecuária consome 70% de
toda a água utilizada no planeta, segundo o Fundo das Nações Unidas para
Agricultura e Alimentação (FAO). Produzir alimentos necessita de muita água.
Quanto menos desenvolvido o país, maior é o consumo. Os dados da Embrapa
indicam que mais de 70% da água, que é destinada a agropecuária, é utilizada na
irrigação e 11% para hidratação dos rebanhos. Lembrando que parte do que é
irrigado, também é consumido pelos animais de produção.
Pelo alto consumo de água na irrigação,
novas tecnologias e manejos estão sendo desenvolvidos para mitigar as perdas.
Estudos da FAO demonstram que cerca de 60% da água utilizada em irrigação se
perde pela evaporação. Algumas mudanças de manejo podem alterar bem este
número. É importante salientar que a irrigação, apesar do custo hídrico, é
imprescindível, pois, aumenta imensamente a produtividade, extremamente
significante para minimizar o custo dos alimentos.
Condenar a agropecuária pelo alto
consumo de água é como punir um professor por utilizar muito giz escrevendo na
lousa. Deve-se capilarizar as técnicas e os manejos desenvolvidos, para um uso
mais racional, mas é uma dependência que sempre existirá. Os volumes consumidos
também serão superiores que as cidades. O campo precisa produzir alimentos para
as pessoas nas cidades. Os alimentos, sejam eles de origem vegetal ou animal,
demandam altas quantias de água. E todos precisam de alimentos. E água, muita
água!
Sobre o
CCAS
O Conselho Científico Agro
Sustentável (CCAS) é uma organização da Sociedade Civil, criada em 15 de abril
de 2011, com domicilio, sede e foro no município de São Paulo-SP, com o
objetivo precípuo de discutir temas relacionados à sustentabilidade da
agricultura e se posicionar, de maneira clara, sobre o assunto.
O CCAS é uma entidade privada, de
natureza associativa, sem fins econômicos, pautando suas ações na imparcialidade,
ética e transparência, sempre valorizando o conhecimento científico.
Os associados do CCAS são
profissionais de diferentes formações e áreas de atuação, tanto na área pública
quanto privada, que comungam o objetivo comum de pugnar pela sustentabilidade
da agricultura brasileira. São profissionais que se destacam por suas
atividades técnico-científicas e que se dispõem a apresentar fatos concretos,
lastreados em verdades científicas, para comprovar a sustentabilidade das
atividades agrícolas.
A agricultura, apesar da sua
importância fundamental para o país e para cada cidadão, tem sua reputação e
imagem em construção, alternando percepções positivas e negativas, não
condizentes com a realidade. É preciso que professores, pesquisadores e
especialistas no tema apresentem e discutam suas teses, estudos e opiniões,
para melhor informação da sociedade. É importante que todo o conhecimento
acumulado nas Universidades e Instituições de Pesquisa seja colocado à
disposição da população, para que a realidade da agricultura, em especial seu
caráter de sustentabilidade, transpareça. Mais informações no website: http://agriculturasustentavel.org.br/.
Acompanhe também o CCAS no Facebook: http://www.facebook.com/agriculturasustentavel.
*Roberta Züge; diretora
administrativa do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS); Vice-Presidente
do Sindicato dos Médicos Veterinários do Paraná (SINDIVET); Médica Veterinária
Doutora pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de
São Paulo (FMVZ/USP); Sócia da Ceres Qualidade.