O GIRASSOL

Palmas/TO,

Especial
Enfretando a crise

30/08/2021

MPEs: a saída para a crise

A opção de investimento por meio das micro e pequenas empresas foi de fundamental importância para o enfrentamento da crise provocada pelo coronavírus.

Fotos Dicvulgação

Abertura de MPEs no primeiro semestre de 2021 é a maior se comparada com os mesmos períodos de 2015 para cá.

Por Suzana Barros

Especial para O Girassol

 

Originada na China, em dezembro de 2019, a pandemia provocada pelo coronavírus chegou ao Brasil em fevereiro de 2020. Em todo o mundo, afetou não somente a saúde da população. Provocou mortes, mudança de hábitos, afetou a economia... No Brasil não foi diferente.

No tocante à economia, vale lembrar que o país já estava se recuperando da crise econômica iniciada em 2014. Em março de 2020, pela primeira vez, foi prevista uma grande retração no Produto Interno Bruto (PIB), atrasando mais ainda o fim da crise e a retomada do crescimento econômico.

Uma das primeiras consequências foi o desemprego, que atingiu diversos setores, incluindo os de serviços essenciais. Para driblá-lo, o brasileiro teve que se reinventar. A opção de investimento por meio das micro e pequenas empresas foi de fundamental importância para o enfrentamento da crise provocada pelo coronavírus.

Isso pode ser constatado por dados do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Eles atestam que em 2020 foram abertas 626.883 micro e pequenas empresas em todo o país. Desse total, 535.126 eram microempresas (85%) e 91.757 (15%) eram empresas de pequeno porte.

Para o diretor-presidente do Sebrae, Carlos Melles, os micros e pequenos empresários são “a teia de sustentação do país na pandemia”. Essa afirmação é reforçada por levantamentos do Governo Federal, que atestam que no ano passado o país criou 3,4 milhões de novas empresas. Uma alta de 6% em comparação a 2019, apesar dos impactos provocados pela pandemia de covid-19. Ao final de 2020, o saldo positivo no país foi de 2,3 milhões de empresas abertas, com destaque para microempreendedores individuais (MEI).

Ainda em 2020, o Ministério da Economia registrou 2,6 milhões de MEI, o que representa a expansão de 8,4% em relação ao ano anterior, levando essa categoria de empreendedores ao total de 11,2 milhões de negócios ativos no país. O MEI representa hoje 56,7% das empresas em atividade no Brasil e 79,3% das empresas abertas no ano passado.

A pedagoga Keliane Vaz de Palmas (TO) faz parte dessa estatística. Resolveu aplicar sua experiência em benefício próprio. Enxergou na sua dificuldade de encontrar alguém para acompanhar as tarefas escolares diárias da filha, uma oportunidade de negócio. Foi quando resolveu abrir sua casa para ofertar serviços de reforço escolar para crianças. "Já consigo pagar as despesas fixas e ter um lucro, mesmo que ainda pequeno. Trabalhar pra gente é bem melhor, mais motivador e compensatório”, define.

 

Saída para o desemprego

Como em todo o país, no Tocantins novos negócios foram abertos por pessoas que ficaram desempregadas e estavam em busca de uma nova fonte de renda. Segundo o Sebrae Tocantins, o registro foi de 5,3 mil microempresas abertas durante a pandemia. Para a instituição, esse foi o jeito que o tocantinense encontrou para espantar a crise.

O desemprego gerado nesse tempo de covid foi motivador de novas atitudes. Foi assim com Joana D´arc Araujo. Demitida logo no começo da pandemia, viu-se sem chão. Foi quando resolveu apostar no que antes era apenas um complemento para sua renda. A venda de roupas virou sua fonte de renda principal. Começou oferecendo produtos online para amigas. O negócio ganhou força, a ponto de ela investir na abrir uma loja física. "Com o desemprego eu pude me dedicar mais às vendas e isso me possibilitou a abertura da loja. Não é fácil, mas estou feliz em ser a dona do meu próprio negócio", relata.

 

Crescimento por Região

Levantamento feito pelo Banco Central atesta que as regiões Norte e Centro-Oeste registraram saldos positivos durante a pandemia, em especial por causa da produção de grãos e desempenho do comércio. Os dados revelam que a crise sanitária teve intensidade e duração própria em cada região, com impactos na restrição de circulação de pessoas e/ou na adoção de medidas de suspensão de atividades econômicas.

“As políticas públicas adotadas – sobretudo os programas de transferência de renda e os de acesso a crédito, com ênfase no auxílio emergencial e no crédito às micro, pequenas e médias empresas – contribuíram para conter a retração da atividade econômica”, registra o estudo.

O Centro-Oeste, por exemplo, teve alta de 0,2% na atividade econômica, devido a sua estrutura produtiva de atividades agrícolas que não sofreu restrição ao funcionamento. Além disso, o crescimento na região também foi favorecido pelas altas no varejo e nos serviços de transporte.

No Sudeste, o segmento de atendimento às famílias permaneceu deprimido. Por outro lado, os serviços financeiros, fortemente concentrados na região, tiveram alta significativa. Isso refletiu numa maior demanda das pequenas empresas por recursos e o acesso às linhas especialmente criadas para combater os efeitos econômicos da pandemia.

 

Produtos alimentícios

Dentro do padrão observado, as MPE’s obtiveram destaque com a alta nas vendas de produtos alimentícios. Números divulgados pelo Sebrae do Rio de Janeiro confirmam a importância do empreendedorismo para garantir a sobrevivência das empresas e a renda dos micro e pequenos empresários durante a pandemia.

Ao mesmo tempo em que a crise provocou o fechamento de 90,2 mil pequenos negócios no estado, foram abertos mais de 307,8 mil pequenos negócios. O destaque foi para o setor de serviços, com quase 160 mil novas empresas.

“Foi um dado que espantou muita gente”, comentou o analista do Sebrae RJ, Felipe Antunes. Segundo ele, a pandemia causou impacto em todos os setores. “Toda a economia sofreu. No nosso entendimento, porém, as pessoas precisam gerar renda, muitas foram demitidas e procuraram o empreendedorismo, abrindo empresas para ter geração de renda”, relatou.

 



Katiuzia Monteiro viu no empreendedorismo uma opção para superar a crise.


Principais atividades

Levantamento do Sebrae, elaborado com base nos dados da Receita Federal, revela que salão de beleza (cabeleireiro, manicure e pedicure) e fornecimento de alimentos preparados para consumo domiciliar foram as principais atividades escolhidas pelos microempreendedores individuais.

Um bom exemplo do que tem ocorrido no Brasil veio do Piauí. A jornalista Katiuzia Monteiro viu no empreendedorismo uma opção para superar a crise, fazendo o que gosta. “Tive muito receio no início, mas depois vi que eu teria que fazer algo. Investi na prestação de serviços para cabelos crespos e deu certo”, relatou ela, acrescentando: “hoje já expandi minha oferta de produtos e me sinto realizada”.

 

Adaptação

Mas não estamos falando de um conto de fadas, onde tudo é perfeito. Nesse meio, as adversidades são constantes e, muitas vezes, adaptações são necessárias. Pesquisa do Sebrae mostra que 31% das empresas mudaram o funcionamento e precisaram se adaptar para manter a saúde financeira.

Pelo estudo é possível observar como as formas de atuar dos pequenos empreendedores estão evoluindo neste momento. Entre as empresas que continuaram funcionando, 41,9% realizam agora apenas entregas via atendimento online. Outros 41,2% estão trabalhando com horário reduzido, enquanto 21,6% estão realizando trabalho remoto.

Outra maneira encontrada pelos pequenos empresários para não interromper o funcionamento foi implementar um rodízio de funcionários. Essa opção foi adotada por 15,3% das empresas. Já a implementação de um sistema de drive thru foi a alternativa para 5,9% delas.

 

Pós-pandemia

Com base em dados da Receita Federal, o Sebrae identificou no primeiro semestre de 2021 que, entre as micro e pequenas empresas, a corretagem de imóveis foi o segmento mais aquecido. A abertura de empresas e algumas atividades tiveram crescimento acima dos 80%, se comparado com o mesmo período do ano passado.

A instituição levantou ainda que entre os MEI, o comércio varejista de bebidas foi o que apresentou o maior incremento: um aumento de mais de 84% se comparado com o mesmo período de 2020. Enquanto no primeiro semestre do ano passado, 20.778 MEI se formalizaram nesse segmento, nesse mesmo período desse ano foram 38.289.

Já entre as micro e pequenas empresas, a atividade com o maior número de inscrições de CNPJ foi a de corretagem na compra/venda e avaliação de imóveis, que passou de 2.613 negócios abertos, no primeiro semestre de 2020, para 5.378 no mesmo período deste ano; um aumento de quase 106%.

“Essas duas atividades apresentaram um forte aquecimento e estão entre as menos impactadas pela pandemia do coronavírus”, observa o presidente do Sebrae, Carlos Melles. Na opinião dele, o novo perfil do consumidor também estimulou incremento nessas atividades.

 

Abertura de Empresas

A abertura de empresas no primeiro semestre de 2021 foi a maior se comparada com os mesmos períodos de 2015 para cá. Dados da Receita Federal, revelam que foram criadas, apenas nos seis primeiros meses deste ano, 2,1 milhões de pequenos negócios. O número é 35% superior ao registrado no mesmo período do ano passado e praticamente o dobro das empresas criadas em 2015.

As atividades tiveram maior incremento no primeiro semestre deste ano, destacam-se o comércio varejista de bebidas – 84,28%, preparação de documentos e serviços especializados de apoio administrativo não especificados anteriormente – 83,71%, atividades de ensino – 52,98%, treinamento em desenvolvimento profissional e gerencial – 52,59%, fabricação de produtos de padaria e confeitaria com predominância de produção própria - 50,81%, dentre outras.

Apesar de todas as conquistas já obtidas, Carlos Melles, lembra que o país ainda tem grandes desafios pela frente. “Estamos com 63 milhões de brasileiros negativados. Não é possível que um país tenha um terço da sua população negativada com esse sonho empreendedor que o brasileiro tem. Ou seja, os desafios são muitos, mas o caminho está dado. O caminho é pela micro e pequena empresa”, prescreve.

 

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